We’ve updated our Terms of Use to reflect our new entity name and address. You can review the changes here.
We’ve updated our Terms of Use. You can review the changes here.

Macumbeiro 2​.​0

by Valciãn Calixto

/
  • Streaming + Download

    Includes high-quality download in MP3, FLAC and more. Paying supporters also get unlimited streaming via the free Bandcamp app.
    Purchasable with gift card

      name your price

     

1.
2.
Exu não é diabo, Não tem chifre, Não tem rabo, Ce já devia saber Que Exu na madrugada, No meio da encruzilhada É que vem me valer. Eu entendo você temer, Eu entendo você não entender... Tudo nesse mundo é manipulado, Pensado e arquitetado Para nos comprometer, Mas tá na hora de você rever, Tá na hora de você aprender Que quem pede o mal, Quem deseja o mal É o verdadeiro culpado Disso tudo acontecer. Exu não é diabo, Não tem chifre, Não tem rabo, Ce já devia saber Que Exu na madrugada, No meio da encruzilhada É que vem me valer. Se Exu abre caminhos E não me deixa sozinho É porque mal Exu não faz. Na verdade foi sua religião Cheia de perseguição Que chamou Exu de satanás (Essa história já não cola mais) Exu não é diabo, Não tem chifre, não tem rabo, Ce já devia saber Que Exu na madrugada, No meio da encruzilhada É que vem me valer É de Laroyê, De Mojubá Chama Exu pra essa roda Pros trabalhos começar
3.
Pela Dor 02:16
Eu cheguei na Macumba Com uma dor mais gigante do mundo. Fui acolhido por um Preto Velho E o Caboclo Gira Mundo Seres sábios, de luz E com um conhecimento profundo. E o que eles disseram pra mim Fez um sentido absurdo: -Basta uma dificuldade Ou uma desilusão Que até quem não acredita Procura nossa religião. E nos cobram velocidade, Querem pra ontem uma solução Pra seus erros no amor e na vida Com vaidade e com ambição. Se falamos essa verdade, Que o problema foi você causou, Você deixa o terreiro com raiva Queimando a Entidade e o Zelador Simplesmente porque disseram A verdade e ela não te agradou. Se você não está pronto pra ela, Assim como eu vai chegar pela dor. Se você não está pronto pra ela, Assim como eu vai chegar pela dor.
4.
Pombagira não é rapariga, Mas tem Pombagira Que foi rapariga E por que te intriga? Cuida da tua vida! E deixa a Pombagira Ser minha rainha. Nos Batuques da cidade, Cabula e Candomblé, Sambando até mais tarde Se entrega a quem bem quer... Se é pra fazer caridade Peça o seu axé. Ela não suporta covarde Que humilha e bate em mulher. Pombagira não é rapariga, Mas tem Pombagira Que foi rapariga E por que te intriga? Cuida da tua vida! E deixa a Pombagira Ser minha rainha. Por que você faz questão De alguém que não te quer? Não é amor nem paixão, Só orgulho ferido, cê sabe que é... Te dou a minha proteção Por onde você andar, Mas entenda uma questão: O que é seu, seu será! Vira gay, vira? Vira gay, vira, Se um homem incorporar uma pombagira? Vira? Pelo amor de dona Quitéria, Vamos parar de acreditar nessas mentiras!
5.
No início da minha caminhada Eu penei até aprender a lição Que ansiedade não leva a nada, Só atrapalha a incorporação. Ansiedade não leva a nada, Só atrapalha e traz frustração. Eu queria saber qual o nome Do Marinheiro e a Malandra de frente, Mas ansiedade não leva a nada, Com o tempo eles se apresentam pra gente. Ansiedade não leva a nada, Com o tempo eles se apresentam pra gente. Depois quis conhecer a história Do Erê Pedrinho de Aruanda, Mas a história só é revelada Após anos e anos e anos de Umbanda, A história só é revelada Após anos e anos de vivência na Umbanda.
6.
Oxalá, Oxum vai guerrear Sem ter de derramar Sangue algum. Omulu, Iansã vai adorar As almas no congá E no Orum. Pai Ifá, Ewá vai engravidar Dar luz a Ibeji E Doum. Oxalá, Oxum vai guerrear Sem ter de derramar Sangue algum. Fugindo de Okerê, Iemanjá corre pro mar, Pois jamais vai aceitar Desamor. Saluba, Nanã Burukê, Saravá, meu pai Oxóssi, Exu, Ogum e Xangô. Oxalá, epa babá, Oxum vai guerrear Sem ter de derramar Sangue algum. Omulu, atotô, meu pai, Iansã vai adorar As almas no altar E no Orum. Pai Ifá, Ewá vai engravidar Dar luz a Ibeji E Doum. Oxalá, Oxum vai guerrear Sem ter de derramar Sangue algum. Fugindo de Okerê, Iemanjá corre pro mar, Pois jamais vai aceitar Desamor. Saluba, Nanã Burukê, Saravá, meu pai Oxóssi, Exu, Ogum e Xangô. Yorubantu, Yorubantu, Yorubantu, Yorubantu, Yorubantu, bantu, Fon, Yorubantu, Fon, Yorubantu, Yorubantu, Yorubantu, Yorubantu, bantu, Fugindo de Okerê, Iemanjá corre pro mar, Pois jamais vai aceitar Desamor. Saluba, Nanã Burukê, Saravá, meu Ogunhê, Okê, Laroyê e Kaô.
7.
Se hoje você tem acesso fácil à tecnologia, a um celular que seja, sinal de internet, se paga Netflix, se você ocupa cargos, postos, ostenta títulos e coisas que seus antepassados não tiveram, porque a oportunidade lhes foi negada, assim como eu, você é um Macumbeiro 2.0, uma Macumbeira 2.0, essa é sua geração, nada de geração Y, X, Z, milenial, essas besteiras que não nos pertence. 2.0, porque também na história deste país nós sempre tivemos que ser duas vezes melhor em tudo, não era isso o que nossos mais velhos diziam: meu fi, por ser negro, você tem que ser duas vezes melhor, pois agora é isso que somos, já somos duas vezes melhor só de estar aqui, fazendo o que estamos fazendo, lançando música, fazendo live, gravando tik tok, criando quadrinhos, literatura, samba enredo, fazendo gol com toda a herança simbólica e espiritual afroindígena que nos foi repassada, ou que ainda estejamos resgatando nesse exato momento, cada qual no seu processo pessoal, cada qual respeitando seu tempo. E nos espaços sociais que ocupa, na Universidade, nos partidos, nos empregos, é um dever seu estar munido da história daqueles que o antecederam e lutaram para que você esteja exatamente onde está agora. Conhecer, resgatar e contar a história deles sempre que possível, porque eles não puderam contar, então devemos repetir quantas vezes for necessário, pois nossos ancestrais são nossas referências, a eles devemos reverência e aos seus filhos, que serão o futuro, é com quem devemos nos aliar, aos indígenas, ciganos, quilombolas, ribeirinhos, gente que mesmo com todo apagamento cultural, marginalização social, com a expulsão violenta provocada pela urbanização e os interesses econômicos, não deixaram de cultuar a terra sagrada que tudo lhes dá e que por direito lhes pertence, estejam onde estiverem, na cidade ou no campo. E não que isso seja um dever, uma obrigação, mas o que é um terreiro se não uma grande casa de acolhimento, se não um quilombo moderno, se não um encontro, um reencontro consigo, uma nova família e na família todos se protegem, se guardam, se zelam, se amam, se brincam, se divertem, a família de Légua que o diga e ela tá toda na eira. As Tecnologias, os big data, o desenvolvimento, o progresso, os meios de comunicação, as plataformas, as redes sociais, todas essas ferramentas que impulsionam e movem a humanidade hoje são nossas também, Ogum e Exu que o digam. A gente não pode ficar para trás, ser excluído mais uma vez na história por não aprender a manusear ou não ter essas coisas, pelo contrário. O que impede uma Entidade, com o auxílio do cambone, de prestar uma consulta por uma chamada de Vídeo? O que impede cigana Sulamita, mãe Carmem de ler as cartas para alguém numa live? Absolutamente nada, a não ser que queiramos engessar a nossa própria Espiritualidade, que estejamos nos tornando conservadores. Você está? Você pensa nisso? Porque nossa Espiritualidade, nossa magia negra, como diz o professor Sidnei, e tudo que ela nos agrega, por si só é dinâmica e acompanha todas as transformações pelas quais a nossa sociedade passa. O sincretismo enquanto estratégia de sobrevivência é uma prova disso. Seu 7 da Lira na coroa de mãe Cacilda compunha marchinhas, brincava o Carnaval, ia pra TV dar entrevista ao vivo, então eu quero refletir com você: o que é mesmo que impede uma Entidade de estar no YouTube, de atender uma ligação? Na zona Norte de Teresina, conheci uma dona 7 que apresenta um programa de rádio comunitária. Ela leva palavras de fé, de força, de luz aos moradores daquela comunidade através das ondas do rádio e que mal há nisso? Outra vez fui a uma festa realizada por um terreiro, festa regada a feijoada para arrecadar donativos para o povo daquela comundiade, aí a gente tava lá na festa, Pombagira Menina apareceu no meio do forró um vestido preto, brilhante, linda. E qual o problema? Se fazemos festejos que duram uma semana, um mês em nossos terreiros, recebemos irmãos de perto, de longe que costumam nos visitar nessas épocas, não é a mesma coisa? E os terreiros lotam. E assim como festejamos, também fazemos nossas obrigações, nossas penitências, equilíbrio é tudo. Em Bacabal no Maranhão, recentemente eu vi um paredão de som na porta dum terreiro de Terecô e achei genial, porque é tanta gente nos festejos, que só mesmo um sistema de som muito potente para dar conta de entoar as doutrinas, os pontos a plenos pulmões e amplificados pelo paredão. Se é uma tecnologia que o mundo nos deu, por que não usar? Lembram de Ogum e Exu? Pois é... A incorporação, por si só, é a maior de todas as tecnologias, o mais belo dos mistérios. Se nós acreditamos na incorporação, por que não acreditamos que é possível uma entidade conversar com alguém pelo celular, quando muitas vezes a entidade só precisa do nome, do endereço e da data de nascimento para cuidar de alguém. Seu terreiro está nas redes sociais e que bom que está. Tempos atrás a Lei brasileira sequer permitia você ter terreiro. Onde a Polícia sabia que tinha um terreiro, ia lá, quebrava tudo, apreendia objetos, prendia os macumbeiros. Depois quando a lei permitiu, a Polícia pedia propina para expedir o alvará de funcionamento, então a gente não pode perder de vista essas pequenas vitórias e avanços, tudo fruto dos que correram ontem para que pudéssemos caminhar hoje. Penso que a gente deve ter muito mais cuidado é com o que expor na internet, com o que vai pra uma rede social, do que com as tecnologias que podemos usar e incorporar no dia a dia das nossas macumbas. Fazer um uso inteligente das ferramentas, das tecnologias, mas sem dar munição para os intolerantes que só querem uma brecha. Mas enfim, falei demais, vamos cantar, outra hora continuo. Só mais uma coisa, quem é do axé não nega sua fé, então quando o homem do IBGE passar na sua casa, diga que é de terreiro, que é de macumba, de Terecô, de Jurema, de candomblé, de jarê, de batuque, de Tambor de Mina, é importante que o Governo tenha esses dados, saiba que existe sim, muito macumbeiro, muita macumbeira no Brasil, pois só com esses dados eles poderão criar políticas públicas para fortalecer as comunidades de matriz africana no Brasil. E só pra finalizar, o Norte/Nordeste não precisa de curso EAD com quem tá lá na outra ponta do país e não conhece nada da nossa realidade, nós temos tudo aqui, somos diversos demais, nossos ritos ricos demais para eles, que nunca vão nos entender, nem fazem questão, vão no máximo engessar e apagar a nossa potencialidade, contemos nós a nossa beleza ritualística, enquanto eles debatem se Zé Pilintra é malandro, é Exu, é baiano, é preto velho, é mestre juremeiro, nós já entendemos que Zé o que é o que quiser porque Zé é livre, como nós somos, Zé é plural, como nós somos, Zé não precisa de uma caixinha de falange para trabalhar, como nós não precisamos. Saravá para todos os Macumbeiros 2.0 desse país. Salve, Mestre Zé Bruno, mãe Maria Piauí, pai Cícero Camafeu de Oxóssi, professor Luís, mãe Gerusmar e pai Zé William, da Morada Nova.

about

“Macumbeiro 2.0 é um disco cem por cento terreiro, das letras à capa, aos samples e referências inspiradas por nomes da velha guarda como J. B. de Carvalho, Os Tincoãs, Tião Casemiro, Orquestra Afro-Brasileira aos youtubers macumbeiros como Bhetania Lemme (in memoriam) e ainda contemporâneo a artistas como Afroito e Majur”, diz o músico, responsável pelos arranjos e todos os instrumentos gravados.


De cunho didático/pedagógico, Valciãn toca em pontos muitas vezes tabu e racistas ao passo que analisa, reverência e cultua a espiritualidade afroindígena fortemente presente nos terreiros, em especial, os do Norte e Nordeste do Brasil, onde a Pajelança, o Terecô, o Tambor da Mata se cruzam com vertentes da Umbanda, Candomblé, Jurema e de um cristianismo popular.


O artista também discute a incorporação de ferramentas tecnológicas do nosso tempo como uso de celulares, lives, paredão de som, rádio ao dia a dia das macumbas, benefícios e cuidados que esses artifícios podem agregar às ritualísticas. A capa do EP é uma representação disso, no qual um cenário de transmissão ao vivo com ringlight, notebook, pisca pisca, um pai de santo incorporado e um congá são apresentados em perfeita harmonia.


O EP traz sete faixas, duas delas mais discursivas, sendo a abertura do disco com falas de Estamira e Bàbá King e o canto de pai Zé William, da Tenda Santa Bárbara, localizada no quilombo Morada Nova, Estado do Maranhão como pano de fundo para o texto final de Calixto. Cada faixa também ganhou um lyric vídeo, onde é possível ver a representação de momentos ritualísticos como a defumação, o banho de ervas e a incorporação de ancestrais encantados.


O trabalho reflete ainda novos aprendizados vividos por Valciãn. O artista aprendeu a tocar cavaquinho para gravar a faixa Exu Não É Diabo (Èsú Is Not Satan) e teve de perder o medo e aprender a mixar e masterizar o próprio trabalho. Lançado nesta segunda-feira, (16) de agosto, dia em que o Exu Tranca Ruas é homenageado e mês dedicado ao Orixá Obaluaê, o músico tem no EP uma forma de viver a macumba além das paredes físicas do terreiro nessa pandemia.

credits

released August 16, 2021

Ficha Técnica:

Produção e Foto de Capa: Eryka Alcântara

Arte Final Capa: Valciãn Calixto

Gravado, mixado e masterizado por Valciãn Calixto entre junho de 2020 e julho de 2021 no Calistúdio, home studio do artista em Teresina-PI

Vozes, arranjos e instrumentos: Valciãn Calixto

Backing Vocals: Eryka Alcântara

Sample em Fala Majeté: Estamira (2006), documentário de Marcos Prado; entrevista com Doutor em Sociologia e Babalorixá King Oduduwa para o programa Estrelando

Sample em Exu Não é Diabo: Menina Eu Vou Dizer - Samba de Coco Irmãs Lopes; Fora Bolsonaro - Dona Palmira da Paraíba

Sample em Desmistificando Pombagira: Bhetania Lemme (in memoriam); versão YouTube contém sample de J. B. de Carvalho

license

all rights reserved

tags

about

Valciãn Calixto Teresina, Brazil

Nada Tem Sido Fácil Tampouco Impossível

contact / help

Contact Valciãn Calixto

Streaming and
Download help

Report this album or account

If you like Valciãn Calixto, you may also like: