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Exu não é diabo,
Não tem chifre,
Não tem rabo,
Ce já devia saber
Que Exu na madrugada,
No meio da encruzilhada
É que vem me valer.
Eu entendo você temer,
Eu entendo você não entender...
Tudo nesse mundo é manipulado,
Pensado e arquitetado
Para nos comprometer,
Mas tá na hora de você rever,
Tá na hora de você aprender
Que quem pede o mal,
Quem deseja o mal
É o verdadeiro culpado
Disso tudo acontecer.
Exu não é diabo,
Não tem chifre,
Não tem rabo,
Ce já devia saber
Que Exu na madrugada,
No meio da encruzilhada
É que vem me valer.
Se Exu abre caminhos
E não me deixa sozinho
É porque mal Exu não faz.
Na verdade foi sua religião
Cheia de perseguição
Que chamou Exu de satanás
(Essa história já não cola mais)
Exu não é diabo,
Não tem chifre, não tem rabo,
Ce já devia saber
Que Exu na madrugada,
No meio da encruzilhada
É que vem me valer
É de Laroyê,
De Mojubá
Chama Exu pra essa roda
Pros trabalhos começar
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3. |
Pela Dor
02:16
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Eu cheguei na Macumba
Com uma dor mais gigante do mundo.
Fui acolhido por um Preto Velho
E o Caboclo Gira Mundo
Seres sábios, de luz
E com um conhecimento profundo.
E o que eles disseram pra mim
Fez um sentido absurdo:
-Basta uma dificuldade
Ou uma desilusão
Que até quem não acredita
Procura nossa religião.
E nos cobram velocidade,
Querem pra ontem uma solução
Pra seus erros no amor e na vida
Com vaidade e com ambição.
Se falamos essa verdade,
Que o problema foi você causou,
Você deixa o terreiro com raiva
Queimando a Entidade e o Zelador
Simplesmente porque disseram
A verdade e ela não te agradou.
Se você não está pronto pra ela,
Assim como eu vai chegar pela dor.
Se você não está pronto pra ela,
Assim como eu vai chegar pela dor.
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4. |
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Pombagira não é rapariga,
Mas tem Pombagira
Que foi rapariga
E por que te intriga?
Cuida da tua vida!
E deixa a Pombagira
Ser minha rainha.
Nos Batuques da cidade,
Cabula e Candomblé,
Sambando até mais tarde
Se entrega a quem bem quer...
Se é pra fazer caridade
Peça o seu axé.
Ela não suporta covarde
Que humilha e bate em mulher.
Pombagira não é rapariga,
Mas tem Pombagira
Que foi rapariga
E por que te intriga?
Cuida da tua vida!
E deixa a Pombagira
Ser minha rainha.
Por que você faz questão
De alguém que não te quer?
Não é amor nem paixão,
Só orgulho ferido, cê sabe que é...
Te dou a minha proteção
Por onde você andar,
Mas entenda uma questão:
O que é seu, seu será!
Vira gay, vira? Vira gay, vira,
Se um homem incorporar uma pombagira?
Vira?
Pelo amor de dona Quitéria,
Vamos parar de acreditar nessas mentiras!
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5. |
Médium Ansioso
02:33
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No início da minha caminhada
Eu penei até aprender a lição
Que ansiedade não leva a nada,
Só atrapalha a incorporação.
Ansiedade não leva a nada,
Só atrapalha e traz frustração.
Eu queria saber qual o nome
Do Marinheiro e a Malandra de frente,
Mas ansiedade não leva a nada,
Com o tempo eles se apresentam pra gente.
Ansiedade não leva a nada,
Com o tempo eles se apresentam pra gente.
Depois quis conhecer a história
Do Erê Pedrinho de Aruanda,
Mas a história só é revelada
Após anos e anos e anos de Umbanda,
A história só é revelada
Após anos e anos de vivência na Umbanda.
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6. |
Reggae dos Orixás
03:20
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Oxalá,
Oxum vai guerrear
Sem ter de derramar
Sangue algum.
Omulu,
Iansã vai adorar
As almas no congá
E no Orum.
Pai Ifá,
Ewá vai engravidar
Dar luz a Ibeji
E Doum.
Oxalá,
Oxum vai guerrear
Sem ter de derramar
Sangue algum.
Fugindo de Okerê,
Iemanjá corre pro mar,
Pois jamais vai aceitar
Desamor.
Saluba, Nanã Burukê,
Saravá, meu pai Oxóssi,
Exu, Ogum e Xangô.
Oxalá, epa babá,
Oxum vai guerrear
Sem ter de derramar
Sangue algum.
Omulu, atotô, meu pai,
Iansã vai adorar
As almas no altar
E no Orum.
Pai Ifá,
Ewá vai engravidar
Dar luz a Ibeji
E Doum.
Oxalá,
Oxum vai guerrear
Sem ter de derramar
Sangue algum.
Fugindo de Okerê,
Iemanjá corre pro mar,
Pois jamais vai aceitar
Desamor.
Saluba, Nanã Burukê,
Saravá, meu pai Oxóssi,
Exu, Ogum e Xangô.
Yorubantu, Yorubantu,
Yorubantu, Yorubantu, Yorubantu, bantu,
Fon, Yorubantu, Fon, Yorubantu,
Yorubantu, Yorubantu, Yorubantu, bantu,
Fugindo de Okerê,
Iemanjá corre pro mar,
Pois jamais vai aceitar
Desamor.
Saluba, Nanã Burukê,
Saravá, meu Ogunhê,
Okê, Laroyê e Kaô.
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7. |
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Se hoje você tem acesso fácil à tecnologia, a um celular que seja, sinal de internet, se paga Netflix, se você ocupa cargos, postos, ostenta títulos e coisas que seus antepassados não tiveram, porque a oportunidade lhes foi negada, assim como eu, você é um Macumbeiro 2.0, uma Macumbeira 2.0, essa é sua geração, nada de geração Y, X, Z, milenial, essas besteiras que não nos pertence.
2.0, porque também na história deste país nós sempre tivemos que ser duas vezes melhor em tudo, não era isso o que nossos mais velhos diziam: meu fi, por ser negro, você tem que ser duas vezes melhor, pois agora é isso que somos, já somos duas vezes melhor só de estar aqui, fazendo o que estamos fazendo, lançando música, fazendo live, gravando tik tok, criando quadrinhos, literatura, samba enredo, fazendo gol com toda a herança simbólica e espiritual afroindígena que nos foi repassada, ou que ainda estejamos resgatando nesse exato momento, cada qual no seu processo pessoal, cada qual respeitando seu tempo.
E nos espaços sociais que ocupa, na Universidade, nos partidos, nos empregos, é um dever seu estar munido da história daqueles que o antecederam e lutaram para que você esteja exatamente onde está agora.
Conhecer, resgatar e contar a história deles sempre que possível, porque eles não puderam contar, então devemos repetir quantas vezes for necessário, pois nossos ancestrais são nossas referências, a eles devemos reverência e aos seus filhos, que serão o futuro, é com quem devemos nos aliar, aos indígenas, ciganos, quilombolas, ribeirinhos, gente que mesmo com todo apagamento cultural, marginalização social, com a expulsão violenta provocada pela urbanização e os interesses econômicos, não deixaram de cultuar a terra sagrada que tudo lhes dá e que por direito lhes pertence, estejam onde estiverem, na cidade ou no campo.
E não que isso seja um dever, uma obrigação, mas o que é um terreiro se não uma grande casa de acolhimento, se não um quilombo moderno, se não um encontro, um reencontro consigo, uma nova família e na família todos se protegem, se guardam, se zelam, se amam, se brincam, se divertem, a família de Légua que o diga e ela tá toda na eira.
As Tecnologias, os big data, o desenvolvimento, o progresso, os meios de comunicação, as plataformas, as redes sociais, todas essas ferramentas que impulsionam e movem a humanidade hoje são nossas também, Ogum e Exu que o digam. A gente não pode ficar para trás, ser excluído mais uma vez na história por não aprender a manusear ou não ter essas coisas, pelo contrário.
O que impede uma Entidade, com o auxílio do cambone, de prestar uma consulta por uma chamada de Vídeo? O que impede cigana Sulamita, mãe Carmem de ler as cartas para alguém numa live?
Absolutamente nada, a não ser que queiramos engessar a nossa própria Espiritualidade, que estejamos nos tornando conservadores. Você está? Você pensa nisso? Porque nossa Espiritualidade, nossa magia negra, como diz o professor Sidnei, e tudo que ela nos agrega, por si só é dinâmica e acompanha todas as transformações pelas quais a nossa sociedade passa.
O sincretismo enquanto estratégia de sobrevivência é uma prova disso. Seu 7 da Lira na coroa de mãe Cacilda compunha marchinhas, brincava o Carnaval, ia pra TV dar entrevista ao vivo, então eu quero refletir com você: o que é mesmo que impede uma Entidade de estar no YouTube, de atender uma ligação?
Na zona Norte de Teresina, conheci uma dona 7 que apresenta um programa de rádio comunitária. Ela leva palavras de fé, de força, de luz aos moradores daquela comunidade através das ondas do rádio e que mal há nisso?
Outra vez fui a uma festa realizada por um terreiro, festa regada a feijoada para arrecadar donativos para o povo daquela comundiade, aí a gente tava lá na festa, Pombagira Menina apareceu no meio do forró um vestido preto, brilhante, linda. E qual o problema? Se fazemos festejos que duram uma semana, um mês em nossos terreiros, recebemos irmãos de perto, de longe que costumam nos visitar nessas épocas, não é a mesma coisa? E os terreiros lotam. E assim como festejamos, também fazemos nossas obrigações, nossas penitências, equilíbrio é tudo.
Em Bacabal no Maranhão, recentemente eu vi um paredão de som na porta dum terreiro de Terecô e achei genial, porque é tanta gente nos festejos, que só mesmo um sistema de som muito potente para dar conta de entoar as doutrinas, os pontos a plenos pulmões e amplificados pelo paredão. Se é uma tecnologia que o mundo nos deu, por que não usar? Lembram de Ogum e Exu? Pois é...
A incorporação, por si só, é a maior de todas as tecnologias, o mais belo dos mistérios. Se nós acreditamos na incorporação, por que não acreditamos que é possível uma entidade conversar com alguém pelo celular, quando muitas vezes a entidade só precisa do nome, do endereço e da data de nascimento para cuidar de alguém.
Seu terreiro está nas redes sociais e que bom que está. Tempos atrás a Lei brasileira sequer permitia você ter terreiro. Onde a Polícia sabia que tinha um terreiro, ia lá, quebrava tudo, apreendia objetos, prendia os macumbeiros. Depois quando a lei permitiu, a Polícia pedia propina para expedir o alvará de funcionamento, então a gente não pode perder de vista essas pequenas vitórias e avanços, tudo fruto dos que correram ontem para que pudéssemos caminhar hoje.
Penso que a gente deve ter muito mais cuidado é com o que expor na internet, com o que vai pra uma rede social, do que com as tecnologias que podemos usar e incorporar no dia a dia das nossas macumbas. Fazer um uso inteligente das ferramentas, das tecnologias, mas sem dar munição para os intolerantes que só querem uma brecha.
Mas enfim, falei demais, vamos cantar, outra hora continuo. Só mais uma coisa, quem é do axé não nega sua fé, então quando o homem do IBGE passar na sua casa, diga que é de terreiro, que é de macumba, de Terecô, de Jurema, de candomblé, de jarê, de batuque, de Tambor de Mina, é importante que o Governo tenha esses dados, saiba que existe sim, muito macumbeiro, muita macumbeira no Brasil, pois só com esses dados eles poderão criar políticas públicas para fortalecer as comunidades de matriz africana no Brasil.
E só pra finalizar, o Norte/Nordeste não precisa de curso EAD com quem tá lá na outra ponta do país e não conhece nada da nossa realidade, nós temos tudo aqui, somos diversos demais, nossos ritos ricos demais para eles, que nunca vão nos entender, nem fazem questão, vão no máximo engessar e apagar a nossa potencialidade, contemos nós a nossa beleza ritualística, enquanto eles debatem se Zé Pilintra é malandro, é Exu, é baiano, é preto velho, é mestre juremeiro, nós já entendemos que Zé o que é o que quiser porque Zé é livre, como nós somos, Zé é plural, como nós somos, Zé não precisa de uma caixinha de falange para trabalhar, como nós não precisamos. Saravá para todos os Macumbeiros 2.0 desse país. Salve, Mestre Zé Bruno, mãe Maria Piauí, pai Cícero Camafeu de Oxóssi, professor Luís, mãe Gerusmar e pai Zé William, da Morada Nova.
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Valciãn Calixto Teresina, Brazil
Nada Tem Sido Fácil Tampouco Impossível
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