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Foda!

by Valciãn Calixto

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1.
Eu sei que ela se cortou Para aliviar um pouco a dor De tudo o que ouviu, Não estava preparada quando descobriu: Seu verdadeiro pai, na verdade, nunca existiu, Sua mãe de mentira só mentiu esses anos todos. Com qual propósito eu não sei, Mas tem sempre aquele tipo de pessoa Que na vida tenta lhe diminuir com ofensas, Que põe em xeque a sua crença só para lhe confundir Porque no fundo sabe que precisa de você mais que tudo, Tem medo de perder a única pessoa com quem pode contar, Pois só consegue lhe manter por perto com as ignorâncias mais idiotas. Não que ela seja uma pessoa ruim, É só um jeito estranho de lidar com a própria frustração Que ela tem vergonha de admitir que possui E o passar dos anos nesses casos só contribui Para que ela te humilhe mais E não reconheça o mínimo que você faz Por ela. Sei que isso não ajuda em nada, Mas é difícil lhe ver desse jeito Eu sem poder falar nada, Não poder fazer nada Por você.
2.
Como você se sente Ao ter seu amigo espancado Pelo seu ex-namorado doente? (Seu amigo que até viado é)... Se o ex sabe de alguém com você, Manda mensagem ou liga pra saber De onde o conhece, quem é, o que faz E porque você não o procura mais. Mas eu preciso entender Como seu silêncio tem ajudado A denunciar as agressões Que você sofre com os que estão do seu lado. Se você entra em pânico só de vê-lo, Se fica nervosa com uma ligação Ele devia no mínimo ser processado, Afastado com uma ordem de proteção. Antes que ele faça novas vítimas E você se arrependa por toda eternidade Teresina inteira precisa descobrir Quem ele é de verdade.
3.
Sobre Meninas e Porcos Éramos três irmãs lá em casa. Eu era a mais novinha E sempre a mais nova é a mais queridinha, A mais bonitinha e a que todos fazem questão de levar para passear. Você se aproveitava disso, Dizia pra mãe que ia me levar para vê a tia, Mas quando não tinha ninguém olhando Você pegava em mim com seus dedos grandes, Olhava pra mim com seus olhos grandes, Levava minha mão até você, até suas partes grandes E eu não sabia porquê. A tia nunca acordava nessas horas. Só conseguia pensar que a culpa era minha Porque éramos três irmãs lá em casa, Eu era a mais novinha E sempre a mais nova é mais queridinha, A mais bonitinha, Mas aquelas tardes na casa da tia Fizeram crescer algo feio junto comigo: Cabelo curto pra parecer menino, Roupas folgadas pra afastar desejos e convites. Eu não queria ser notada por ninguém. Evitava lugares, esnobava pessoas. Morria de raiva porque você ainda frequentava minha casa E toda vez, toda vez perguntava por mim. Você nunca teve medo de eu contar para alguém, Sempre confiou no seu prestígio com os adultos lá de casa E realmente até hoje não contei pra ninguém, Não sei com quem eu falo sobre, não sei. Não sei se tenho coragem Ou se isso vai te fazer pagar pelo que fez Ou se vão acreditar em mim. Com certeza vão questionar por que escondi isso por tanto tempo, Vão querer saber como consegui, como suportei, Vão me chamar de coitada e isso eu não quero Só sei que eu encontraria paz em qualquer lugar dessa terra por onde você não pisasse, Por onde você não cuspisse, Por onde você não soubesse de mim. Muitas noites eu chorei por acreditar Que se meu pai fosse vivo nada disso teria acontecido, Que um dia na vida eu me sentiria protegida E iria pro colégio ou na farmácia sem ter a impressão de alguém me seguindo, Sem a sensação horrível dos seus olhos me vigiando em cima de uma bicicleta Ou que você estivesse me espreitando na próxima esquina pra tentar alguma coisa outra vez. Eu estava maior, mas nunca poderia me defender sozinha, Eu estava sozinha e nunca me sentia maior. Quando comecei a sentir atração por meninas Já não acreditava que iria morrer só, As coisas fizeram mais sentido ali, Não queria me envolver com alguém do sexo que me desonrou, Que tirou o meu estímulo com as coisas de mulher como casar, ser mãe e constituir família, Deus me livre botar filha no mundo para correr o risco de sofrer o que sofri, o que passei. Eu só queria alguém que suportasse esse peso comigo, Não é possível que ele tenha sido entregue só a mim. Eu achava que qualquer garoto seria incapaz de compreender, Que garoto algum fosse me aceitar pra namorada, Então eu mesma fiz questão de criar um bloqueio contra tudo que pudesse me rejeitar, Contra quem pudesse julgar minha história e me condenar Porque durante um bom tempo parecia que estava condenada a não passar dessa fase, A não viver, a não criar outro enredo para mim, Pois às vezes quando fecho os olhos Lembro daquela maldita sala com a tv ligada no futebol, Das minhas pernas sendo abertas feito uma caixinha de costura Para um pano sem remendos que sou, Porque éramos três irmãs lá em casa E não que eu deseje algum mal para elas, Mas parece que minha vida inteira foi sendo desfiada pouco a pouco por essa agulha chamada pedofilia.
4.
Eu vou ficar só. O Carnaval em minha cidade Eu vou brincar só. Não há nenhuma novidade Em ficar só como eu. Eu vou morrer só Feito o pai intolerante (Vou acabar só) Que expulsou o filho gay E bateu na mulher. Eu vou percorrer minhas amarguras E pagar com o meu sossego Indiferenças passadas. Eu vou percorrer minhas teimosias E pagar com o meu remorso Divergências inúteis É bom ficar só Quem não sabe conviver em sociedade, Melhor é ficar só Se não respeita a liberdade da galera Como eu. Eu vou te listar os meus desafetos E lembrar as infantilidades Que destruíram amizades.
5.
Pathos 02:55
Mas me responda só uma coisa, Quando você pensa em sumir A morte é o caminho mais certo Ou você tem para onde ir? E você desaparecendo, O que é que vai mudar? As dúvidas somem, Mas os erros vão ficar. Quem sabe sua ausência ajude a entender Porque dentro de casa estava impossível conviver. Talvez que sua ausência me faça perceber O quanto estive errado em ter me afastado de você. Você se queixa dos amigos Ou da falta que eles lhe fazem E passa a tarde inteira comigo. Sei que não queria estar me dizendo Tudo que já me confessou, Mas tem horas que o povo enche o saco, Quando vai ver o desabafo já rolou. Por que ninguém discute temas como suicídio? Conheço vários casos contados nas rodinhas de amigos. Por que ninguém debate temas como suicídio? Preferem contar em antigos genocídios.
6.
Como todo adulto Não me falta defeito... Comigo é até pior, Pois fico meio sem jeito Já que chegada certa idade Ninguém mais faz amizade, Só adquire ou impõe respeito E absolutamente nada Nada disso, nada disso Eu sei fazer direito Muito menos esperar, Pois as pessoas são apenas abacaxis, Doces e ácidas. Não tem nada o que esperar, Não podemos esperar, Pois as pessoas são apenas abacaxis, Doces e ácidas. Apenas abacaxis Pra resolver. Apenas abacaxis Pra descascar.
7.
Quem me vê com o violão por aí Nas noites, nos bares tocando só, Acha que é massa, mas tem um porém, Meu irmão me deixou pra ir tocar forró... Ele foi atrás de um sonho, Eu entendo, também tenho o meu, Mas quando se tem um parceiro É difícil dizer adeus. Meu irmão você é demais, Se destaca em tudo que faz, Mas vê se volta logo Nem que seja pra gente lembrar os bons tempos de nosso pai. Quem me vê com o violão por aí Nas noites, nos bares tocando só, Aplaude de pé, mas tem um porém, Meu irmão me deixou pra ir tocar forró... Ele foi atrás de um sonho, Eu entendo, também tenho o meu, Mas quando se tem um parceiro É difícil dizer adeus. Meu irmão você é demais, Se destaca em tudo que faz, Mas vê se volta logo Nem que seja pra gente lembrar os velhos tempos de nosso pai. "Tudo é solidão Quando eu Vou sair E desabafar Meu coração Quando a cidade dorme Só penso em você Que partiu Que sumiu E aonde é Que você está Quando a cidade dorme"
8.
Rupy 03:26
Minha irmã pede desculpas, Pois não poderá ir ao parquinho com vocês. Mamãe diz que ela está doente, Embora não sinta nada é melhor obedecê-la, Evita castigo maior que seu corpo. Rupy fala que às vezes nem queria ser menina. É como se houvesse granadas, Granadas explodindo dentro da sua barriguinha. Porém a guerra parece maior. Pergunto se Rupy também é uma judia. Mamãe me diz para eu parar com essas bobagens E manda eu ir pra cozinha, pois já vai servir o almoço. Não vai chover, O céu está limpo. Não vou correr, Minha farda branquinha. Só Rupy que não.
9.
Márcia entrou em estado de transe para sempre. Dá mais resultado conversar com uma planta. Prefere ser chamada de louca por seus pais Do que ser tratada eternamente como criança. Bom, se tem fundamento ou não, é a conclusão A que chegaram os psicólogos da vizinhança. O tio de Silmara costumava apertar seus seios quando pequena. Ele dizia com uma cara de monstro que assim cresceriam rápido. Bastou ela ficar mocinha, os peitos cresceram tanto que caíram Como Silmara que caiu da Ponte JK em um protesto Do corpo contra a pedofilia do mundo. Pelo menos foi o que ela deixou subentendido no último Texto publicado em seu blog pouco acessado. Fernanda tem um filho que gosta de se vestir como a irmã. Assim como ela teve de se conscientizar que gênero e corpo Nem sempre são os mesmos em algumas cabeças, Fernanda agora crê que sua missão é levar esse entendimento Para o máximo possível de pessoas, a começar Pelo meio mais hipócrita de todos, a família. Gabi mora num quartinho alugado na frente do cabaré da Lenice. Seu homem a colocou lá e a visitava três vezes por semana. Quando Gabi se entristecia, acreditava que sua vida Não era muito diferente de nenhuma daquelas mulheres. Então uma noite se juntou às moças e foi ganhar um extra. No outro dia contou tudo ao seu homem e ele nunca mais a visitou. Gabi então adotou aquela vida para si, que ironia. O castigo da beleza é a falta de sinceridade. Não havia um rapaz sequer que se aproximava de Bia sem segundas intenções. As meninas quando não queriam se aproveitar de sua popularidade, sentiam inveja. Chegaram ao ponto de montar uma rede de intrigas Envolvendo seu nome. É o preconceito reverso, eu acho. Por conta disso a garota quase foi linchada na escola. Há cinco anos Bia deixou Teresina para ser freira na capital soteropolitana. Na sala a professora fala com uma mãe E a orienta a ter uma conversa severa com a filha, Pois não sabe se as notas baixas são por implicância, teimosia ou distração. Embora adultas, as duas não possuem discernimento ou sensibilidade Para perceber uma dislexia simples como a dificuldade de concentração. A docente, inclusive, com seu amplo conhecimento, dá uma sugestão, Comenta sobre Ritalina, quase mata a mãe do coração: “Mantém as pessoas com um comportamento dentro do padrão, Talvez seja o caso de sua filha, talvez não”. A mulher deixa a escola com uma angústia enorme no peito. Em casa, tranca-se no quarto, aumenta o volume da televisão. Abraça o retrato da filhota, se acaba em choro diante a situação. Anos mais tarde na faculdade, durante a disciplina de Psicologia da Educação A filha vai entender tudo que passou na infância, As sucessivas mudanças de colégios e o quanto isso influenciou em sua formação. Hoje é muito fácil perceber que o modelo de ensino fundamental vigente Carece pra ontem de uma atualização, no mínimo uma discussão. Que as aulas são chatas porque nossas crianças tem tudo ao alcance da mão. O acesso e desenvolvimento tecnológico Nos permite conhecer rapidamente qualquer informação, Ou seja, trancar quarenta alunos numa sala de aula está meio que fora de cogitação, Talvez seja preciso voltar às raízes quando o professor lecionava a domicílio, Posso estar enganado, não sou nenhum teórico, Mas é preciso rever com urgência nosso método ultrapassado de capacitação. O engraçado é que todas essas estórias, aonde eu chego, eu paro e conto. Foi com estas personagens que aprendi a nunca entregar os pontos.
10.
Eu ganho a vida contando estórias. Também ouve só quem quiser. Contudo há uma que é bem triste, Pois fala da vida de uma Mulher Que eu conheci certa vez Durante uma viagem qualquer Lá para as bandas oeste do Estado, Metade do caminho eu fiz a pé. Porém estou falando de uma viúva Casada com o ex Xerife da cidade, Que provocou um ‘derrame’ na região Ao cometer seu ato mais covarde Mandando matar todos os cães do entorno, O da Casa Grande foi o primeiro. A velha espingarda de cano torto Atirou em quem matou seu herdeiro. Os Caçadores revoltados com o abuso Após perderem seus parceiros de caça Decidiram se vingar do Xerife, Tocaram fogo na fazenda e na casa. Depois sem saber o que fazer com a esposa Consentiram após votação Cada um estuprar a coitada E assim livrar a cidade de uma possível maldição. Então me despeço de todos vocês Feito Marco Polo aqui do Sertão Com a perplexidade de alguém que constata: A maldade humana não tem salvação!

about

Agradecimento total à Deus, meu irmão Marciano Calixto que gravou todas as baterias sem pré-produção nem nada e em pouquíssimo tempo, e toda a Geração TrisTherezina nas pessoas de Eryka Alcântara, Heitor Matos, Joniel Santos, João Pedro, João Paulo (Zim), Pablo Vinícius, Robervan, Nadja Lorena, Lucas Martins, Guilherme Filho, Breno Andrade, Laic Almeida e Agostinho Torres. 6 u 10, guys!

credits

released March 23, 2016

1. Disco – Foda!
2. Artista - Valciãn Calixto
3. Músicas, Arranjos e Letras por Valciãn Calixto
4. Gravado no ATM Estúdio em Teresina durante os meses de Setembro de 2015 e Fevereiro de 2016.
5. Mixado e Masterizado por Arthur Raulino
6. Capa por Breno Andrade
7. Participação na faixa SOBRE MENINAS E PORCOS por Eryka Alcântara
8. Participação na faixa NÚCLEOS DE UM ROMANCE ENGAVETADO por Agostinho Torres, João Pedro, Ronnyel Seed, Heitor Matos e Joniel Santos
9. Trecho Incidental de QUANDO A CIDADE DORME (Renato e Seus Blue Caps) na faixa ENGOMANDO A CALÇA COM EDNARDO
10. Todas as baterias por Marciano Calixto
11. Guitarras, Baixo, Violão, Teclados e Sintetizadores por Valciãn Calixto

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Valciãn Calixto Teresina, Brazil

Nada Tem Sido Fácil Tampouco Impossível

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